sexta-feira, 5 de março de 2010

FAZ-DE-CONTA II – SALADA MISTA NA EDUCAÇÃO

Por Yan Fernando Maciel de França
Foi-se o tempo em que as forças políticas atuantes do Movimento Estudantil reivindicavam-se partidárias. Claro, os partidos de massas da esquerda faziam de fato uma política que representava os interesses dos movimentos sociais. Então era comum e motivo de orgulho pra um militante partidário chegar dentro de uma universidade e dizer pra todo mundo com bandeiras e camisas que era militante de tal partido, e o mais bacana era que isso era bem aceito pela comunidade estudantil e ainda motivava muitos outros estudantes a aderirem ao movimento.
Hoje é quase o inverso. A diferença é que isso não é bem aceito pelos estudantes. Mas por que será? Que pergunta irônica, heim? Ora! Os partidos de esquerda já não guardam mais as esperanças que os estudantes aspiram, já não detêm mais o poder de massificar o Movimento Estudantil nas ruas, não têm capacidade e nem autonomia para fazer um movimento combativo às forças de direita. Mas isso se torna bem claro quando classificamos esse fato como conseqüência. Não é de se estranhar a ausência do movimento estudantil combativo aos casos de corrupção e desvio de dinheiro no setor da educação quando as maiores forças estudantis são atreladas a partidos que não têm mais o interesse de fazer esse combate.
Com esse descrédito nos partidos de esquerda torna-se estratégico para as forças não assumirem nenhum atrelamento com algum partido. Muitos classificariam isto como hipocrisia, eu prefiro classificar isto como estratégico para alguns tipos de forças (Mais abaixo discorrerei sobre isso).
O que antes era motivo de orgulho, hoje é motivo de acusação. É comum nos debates políticos do movimento estudantil frases como: “eles são atrelados ao partido ‘A’ que tem vínculo com o Governo Federal”, “eles são do partido governista”, ou então: “vocês é que são governistas por defenderem tal Projeto de Lei” e por aí vai...
O problema de tudo isso é a generalização. Isso acaba prejudicando algumas forças que representam de verdade os interesses da classe estudantil. Essas forças são obrigadas a tomar decisões estratégicas uma vez tomadas pela direita de não assumirem vínculo com nenhum partido. Para as forças de esquerda é compreensível a classificação “estratégica”. Para as de direita é estratégica, mas é também algo mais: “hipócrita”.
Diante de tudo isso é inevitável a análise da relação entre movimento estudantil, partidos de direita e dois fatos que aconteceram neste começo de ano no Amapá: votação do orçamento para educação no ano de 2010 e o desvio de 200 milhões ocorrido na secretaria de educação no estado.
Lembro-me muito bem da famosa polêmica sobre o orçamento para 2010. Pouco mais de 20 estudantes se encontraram para um manifesto em frente à Assembléia Legislativa para protestar contra a proposta daquela casa que reduziria o orçamento para educação. Certamente é uma luta válida e poderia ter méritos, é uma bandeira que qualquer estudante ergueria e seria a favor. O outro fato é que na semana passada começaram a estourar denúncias sobre um suposto desvio de verbas públicas na Secretaria de Educação, e nos últimos dias o secretário de Educação Adauto Bittencourt foi afastado do seu cargo junto com mais seis servidores. Agora vale a pergunta: ONDE ESTÃO OS ESTUDANTES? Ou melhor: ONDE ESTÃO AQUELES ESTUDANTES?
É necessário refletirmos sobre qual lado esses dirigentes do movimento estudantil estão. Em outrora existiam três opções: na classe estudantil, na AL e no governo. O problema é que poucos dias após o manifesto em frente à AL estas opções formam apenas duas, classe estudantil e governismo (adivinha?), já que todo mundo entrou em acordo sobre o orçamento como foi estampado nas capas dos jornais mostrando o presidente da AL Jorge Amanajás levantando a bandeira da UNE junto com o atual dirigente desta entidade no Amapá Willian, que por sinal é também membro do Conselho Estadual de Educação, e mais outros militantes (vale lembrar que o Willian virou conselheiro de Educação através de um processo de indicação do governo e não por um processo democrático como deveria ser).
O dep. Ruy Smith (PSB) escreveu no maravilhoso artigo Faz-de-conta publicado no blog Repiquete no Meio do Mundo de Alcilene Cavalcante as seguintes palavras: “Quem mais, além da Comissão de Educação, do MPE e da OAB (já aderente) teriam interesse precípuo em garantir o bom uso do dinheiro da educação? O SINSEPEAP, claro! O Sindicato dos Servidores Públicos em Educação no Amapá, presidido pelo professor Aildo Silva, é a primeira organização social que deveria estar no front , pois congrega os interesses de mais de 12 mil profissionais da educação do Amapá, soldados de primeira hora dessa luta”. Acrescento eu que a UNE e os DCE’s deveriam também ter interesse em garantir o bom uso dos recursos públicos na educação. Ora! Se um dia eles foram lutar por mais dinheiro na educação não seria menos que a continuidade desta luta brigar (claro, de forma formal e lícita) pelo bom uso dessas verbas.
É notável e claro que o campo majoritário do Movimento Estudantil, assim como o SINSEPEAP, está aparelhado ao governismo. Isso é uma vergonha para a classe estudantil, é uma vergonha para mais de 12 mil servidores públicos da educação no Amapá. Onde está o mínimo da boa índole dos movimentos sociais que em outros tempos orgulhavam as suas respectivas classes?
O que antes era descrédito apenas nos partidos, agora se estende para as entidades sociais desrespeitando uma pequena parcela dos Movimentos Sociais que não fazem parte deste aparelhamento.

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