quarta-feira, 26 de maio de 2010

Adeus, meu Querido Velho!

Depois de quase cinco meses meu pai resolveu levantar a bandeira branca, resolveu se emudecer, fechar os olhos para as tristes paredes encardidas do Hospital das Clínicas Alberto Lima. Cansado, já não dormia mais, nem os cochilos de quinze minutos conseguia dar, era muita agonia dividida em um corpo de pouco mais de 1,75 metros...sentia, que ele sentiu ser o momento da pausa.
De arrebate não aceitei, não aguentei, chorei...cantei, chorei novamente. Aos poucos fui imaginando que se creio em uma outra vida, mais ampla do que esta que vivemos aqui, pregando o materialismo, eu deveria aos poucos ir me deixando largar da sensação de perda que me afligia.
Parei de pensar em pedir, não fazia sentido mais ouvir os ‘ais’, os inúmeros pedidos de ‘me leva pra casa’, a voz rouca. E ver ele ali, deitado, silencioso, me fazia lembrar do descanso, descanso que ele merecia.
De longe a gente pensa que câncer é a pior doença do mundo. Mas é bem pior que isso, ou melhor, muito pior que isso. Você vê famílias se revesando, outras ficando naquelas enfermarias, vendo seus filhos, maridos agonizando de dor, uma dor funda por dentro, uma dor que de tanto 'ai' continua sem descrição e pensa: Coisa pouca é bobagem.
Uma aprendizagem o câncer trouxe de bom para nós, se é que eu possa dizer isso. Ele nos aproximou, ele nos trouxe de volta, mostrou o que é uma família, como é ser família. Ainda choro pela falta do meu pai, aquele pai que só pude aproveitar durante uns seis meses, um pai bobo, um pai criança, um pai que pedia, que dava..., que continuava brigando...risos
Um pai que acho eu, deve ter reencarnado acreditando ter cumprido seu compromisso com a gente. Um pai com defeitos, mas um pai que acima de tudo fazia o que de possível fosse para fazer nossas vontades, satisfazer nossos desejos...
A falta agora é grande, dói, mas eu me guardo em orações para manter o ‘meu velho’ lá em cima, junto com meus outros, de alma leve, menos carregada dessas impurezas do mundo material, não quero mais dor para ele, agora quero paz...agora só quero rezar.
A vocês que me acompanham durante esse um ano, eu peço do coração, de coração. Rezem pelo meu querido velho...lembrem do Nonato em suas orações, para que ele prossiga em paz a sua outra jornada. Eu daqui do meu cantinho, continuarei guardando carinhos e bençãos para vocês!!

“Meu Velho”
É um bom tipo, meu velho,
Que anda só e carregando
Sua tristeza infinita,
De tanto seguir andando,
Eu o estudo desde longe,
Porque somos diferentes,
Ele cresceu com os tempos,
Do respeito e dos mais crentes,
Velho, meu querido velho,
Agora já caminha lento,
Vou perdoando o vento,
Eu sou teu sangue meu velho,
Teu silêncio e o teu tempo,
Seus olhos são tão serenos,
Sua figura cansada,
Pela idade foi vencido,
Mas caminha sua estrada,
Eu vivo os dias de hoje,
Em ti um passado lembra,
Só a dor e o sofrimento,
Tem sua história sem tempo...

                                                     (Altemar Dutra)

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